Opinião

O misterioso sumiço da mochila azul - com câmeras e tudo

Por Eduardo Ritter
Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel
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Era uma tarde de sol de uma terça-feira qualquer no centro de Pelotas. Após passar uma hora fora, retornei ao meu carro estacionado na rua Gonçalves Chaves, próximo ao Theatro Guarany, com muita fome. Antes de estacionar ali, eu tinha deixado minha velha mochila azul, com o slogan da Nike quase apagado, contendo meu notebook e alguns livros que levaria para apresentar aos alunos durante a aula, uma sacola de pão e um saquinho com meia dúzia de mini pizzas para lanchar antes do trabalho. Ao abrir o porta-malas salivando, percebi que a sacola com o pão e as mini pizzas eram as únicas coisas que ainda estavam dentro dele.

Parei, estarrecido. E agora, o que fazer? Enquanto recuperava mentalmente os meus passos até aquele momento para ter certeza de que havia deixado a mochila com o notebook e outros pertences no porta-malas, peguei as mini pizzas e comecei a comer. Enquanto mastigava, recordei que havia colocado os livros dentro da mochila que já estava no porta-malas antes de sair de casa. Ou seja: não havia dúvidas, a mochila, o notebook, os livros, o pen drive, o copo do Grêmio e outras bugigangas deveriam estar ali. Mas não estavam. Peguei o celular e liguei para o 190 enquanto comia mais uma mini pizza. Ninguém atendia. Durante uns dez minutos, fiquei degustando as mini pizzas observando o porta-malas aberto enquanto tentava ligar para a polícia militar e... nada. Absolutamente nada. Nadica de nada.

Andei pelos arredores e vi as câmeras. Achei que o Ivo Holanda apareceria para dizer que era uma pegadinha. Mas não apareceu. Bom, eu tinha pouco tempo antes da aula. Pedi para um colega avisar aos alunos que talvez atrasasse e me dirigi para a delegacia. Estava lotada. Decidi ir dar aula primeiro para depois voltar para fazer a ocorrência. Pelos meus cálculos, o ladrão estaria ferrado, pois há câmeras de segurança em todas as direções por onde ele possa ter fugido e eu reconheceria a minha mochila com um olho e sem óculos: comprei ela em Nova Iorque e nunca vi uma parecida aqui no Brasil, além de estar velha e surrada, inclusive com alguns rasgões.

No depoimento, mencionei as câmeras. O policial, que foi muito atencioso e educado o tempo todo, disse que as imagens serão solicitadas, mas, pelo que entendi, os proprietários não têm a obrigação de fornecê-las. Não trabalham no SBT nem para o João Kleber, então, a identificação do meliante que roubou a minha mochila do porta-malas do meu carro em plena luz do dia no centro de Pelotas está à mercê da boa vontade de várias pessoas, menos da minha. Eu, como todas as vítimas de crimes do Brasil, só posso esperar e torcer de longe. Afinal, pelo movimento que vi na delegacia, há uma fila gigantesca de ocorrências sendo geradas todos os dias e seria necessário vários batalhões com mais policiais para dar conta de tanta demanda. Apesar disso, vi os que lá estavam trabalhando atuando seriamente e, por isso, ainda tenho um pingo de esperança de que o assaltante seja encontrado.

Caso não o identifiquem, resta-me torcer para que ele faça bom uso dos meus três livros. Um deles, inclusive, é de minha autoria. Se ele aparecesse, até poderia fazer uma dedicatória: "Desejo ao larápio que me furtou uma boa leitura e que essa obra o ajude a futuramente sair dessa vida. Muita luz quadriculada em seu caminho. Atenciosamente, Eduardo Ritter".

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